Arquitetura Moderna em Pernambuco entre 1945-1970.

Os principais arquitetos que atuam em Pernambuco nesse período são Acácio Gil Borsoi (formado em 1949 na FNA) e Delfim Fernandes Amorim (formado na Escola do Porto em 1947). Ambos ensinaram na Escola de Belas Artes de Pernambuco e são responsáveis pela formação dos principais arquitetos que atuam nas capitais do Nordeste.
Nos anos 50, Borsoi influenciado pelos mestres cariocas (Oscar Niemeyer e Lúcio Costa), é o principal representante em Pernambuco dessa escola carioca, já Delfim Fernandes Amorim, tendo emigrado ainda sob influência tardia do racionalismo moderno de origem corbusieriana é levado pela Arquitetura Moderna Brasileira. Contudo, ambos nesse período buscam relações mais estreitas com o meio e a cultura local. No final da década, os mestres tomam caminhos distintos e individuais: Acácio Gil Borsoi envereda por expressões brutalistas adequadas ao clima tropical e aos materiais regionais; ao passo que Delfim Amorim desenvolve um verdadeiro tipo de casas unifamiliares com telhados em laje de concreto pouco inclinadas cobertas com telhas cerâmicas. Os arquitetos pernambucanos: Vital Pessoa de Melo, Reginaldo Esteves, Waldecy Fernandes Pinto, Marcos Domingues da Silva, Jarbas Guimarães, Wandenkolk Tinoco e outros projetam exemplares das casas de Amorim, que se tornou uma marca registrada da arquitetura pernambucana entre aproximadamente 1962-1966. Portanto, o tipo inspirado na casa rural do período colonial disseminou-se em Recife ganhando sua versão regional, mais leve, com varandas, amplos telhados e generosos beirais. Esta tendência transforma-se quase em uma moda nesse período.
Em meados dos anos 60, alguns arquitetos pernambucanos buscam novos paradigmas e uma relação mais próxima ao brutalismo internacional. Acácio Gil Borsoi introduz esses elementos de expressão brutalista em suas obras, fruto do contato direto com a arquitetura inglesa, escandinava e americana. Os edifícios Santo Antônio (1960) e Guajirú (1962) são pioneiros nesta linguagem. Delfim Fernandes Amorim em conjunto com Marcos Domingues, Florismundo Lins e Carlos Corrêa Lima também incorpora elementos desta linguagem no Seminário Regional do Nordeste (1962). Quando alia a estética brutalista à liberdade formal da Arquitetura Brasileira. Outros seguidores dessa nova tendência são arquitetos que compõem uma nova geração (1968): Glauco Campello, Armando Holanda, Wandenkolk Walter Tinoco, Hélvio Polito, Vital Pessoa de Melo, Frank Svenson e Marcos Domingues da Silva, entre outros.

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Delfim Fernandes Amorim
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Acácio Gil Borsoi
Tanto na obra de Acácio Gil Borsoi como na obra tardia de Delfim Amorim evidenciam-se as expressões brutalistas: os jogos de volumes e recortes são explorados segundo diferentes funções, assim como as cobertas extremamente inclinadas contrastando com as cobertas horizontais, a busca de expressividade nos elementos estruturais e construtivos tais como pilares, vigas, gárgulas, caixas d’água, plasticamente explorados através do uso do concreto aparente; a utilização dos materiais rústicos e naturais tais como o tijolo cerâmico, a madeira, a pedra, superfícies revestidas de azulejos ou por pastilhas. O respeito aos rigores do clima tropical está presente na utilização dos peitoris e bandeiras ventiladas, de esquadrias com venezianas em madeira rústica, de elementos vazados sabiamente explorados e de grandes beirais. Os telhados bruscamente inclinados cobertos com telhados cerâmicas ou de fibrocimento contrastam com as lajes planas em concreto armado ou com as cobertas planas em estruturas de madeira com telhas de cimento amianto. Essas produções são importantes no âmbito nacional devido às suas semelhanças aos modelos paradigmáticos da Arquitetura Moderna Brasileira, estes exemplares urgem de atitudes mais enfáticas no campo da preservação uma vez são importantes documentos de nossa identidade regional. É provável que esses princípios arquitetônicos, tecnológicos e sociais não sejam suficientes para fundamentar uma escola autóctone e autônoma, mas demonstra claramente que existiu uma tentativa de se criar dentro da arquitetura nacional uma tendência que marcasse o regionalismo local. Evidentemente, esta não é uma pesquisa conclusiva na qual se busca atingir verdades incontestáveis, mas é uma discussão inicial que aborda o tema de forma exploratória e se enriquece pela geração de novos questionamentos.
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