Um Caminhar pela História do Recife - Parte 02

2ª parte composta pelo: Gabinete Português de Leitura, Jornal do Commércio, Arquivo Público Estadual, Praça Dezessete, Igreja do Espirito Santo, Fórum Thomaz de Aquino:
1 - Gabinete Português de Leitura
Em meados do século XIX, a maioria dos jovens portugueses que vinha ao Recife era originária das aldeias e muitos chegavam aqui analfabetos e desinformados, em busca de melhores condições de vida. Os que já haviam conseguido uma boa posição, sentindo-se responsáveis pelos outros, tiveram então a ideia de criar um local onde todos pudessem se encontrar para trocar informações sobre as famílias que haviam ficado em Portugal, receber cartas e ler jornais e livros portugueses. Procurando uma solução, o Comendador Miguel José Alves, na época, Chanceler do consulado de Portugal no estado, foi o primeiro a pensar na possibilidade de em Gabinete Português de Leitura em Pernambuco. Porém, se ao Comendador cabe o mérito da elaboração da ideia, coube ao cirurgião e jornalista João Vicente Martins a honra de fundar, em 3 de novembro de 1850, constituir a primeira diretoria, reunir os primeiros associados e viabilizar a instalação, em 15 de agosto de 1851, do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, em seu primeiro endereço, na Rua da Cadeia Velha, Recife. Em 1909 o Gabinete Português de Leitura fixou-se definitivamente no local onde tem a sede atualmente na Rua Imperador D. Pedro II, 290, num terreno que comprou em esquina com a Rua Siqueira de Campos e onde construiu o majestoso prédio. Localizado em área grande valor histórico e arquitetônico perto da Capela Dourada e ao Palácio do Campo das Princesas, o Gabinete Português de Leitura tem um salão que é aberto para conferências literárias ou científicas e no seu hall pintores costumam fazer exposições. O Gabinete é um dos monumentos mais importantes da presença portuguesa no Recife.
2 - Jornal do Commércio
Fundado em 3 de abril de 1919 pelo jornalista, empresário e político paraibano Francisco Pessoa de Queiroz. É parte integrante do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, um conglomerado de veículos de comunicação que conta ainda com a TV Jornal, Rádio Jornal, JC/CBN Recife e o JC OnLine (todos situados no Recife),além dos veículos localizados no interior do Estado como a TV Jornal Caruaru e a rede Rádio Jornal (presente em Caruaru, Garanhuns, Limoeiro, Pesqueira, Petrolina). Figura entre os periódicos de maior credibilidade do Brasil e já conquistou ao longo de sua história muitos dos principais prêmios nacionais destinados ao setor de comunicação, como o Esso Regional Nordeste, Fiat Allis, Vladimir Herzog, Imprensa Embratel, Unisys e José Reis de divulgação científica, entre outros. A publicação também é recordista absoluta do Prêmio Cristina Tavares, maior reconhecimento jornalístico pernambucano, com dezenas de troféus em texto, arte, foto e desenho. Entre os reconhecimentos mundiais, estão o Prêmio Desertificação: Uma Ameaça Global, conferido pela ONU, o da International Library of Photography e vários reconhecimentos no News Page Design (que elege as melhores capas de jornais do mundo).
3 - Arquivo Público Estadual
Quando o Palácio do Campo das Princesas foi reformado, no ano de 1922, foram jogados milhares de documentos (considerados apenas como "papéis velhos") no rio Capibaribe, que pertenciam ao acervo histórico do Estado, e que vinham sendo arquivados desde a administração do Conde da Boa Vista, ano de 1842. Diante da própria necessidade, foi no governo do Desembargador José Neves Filho - interventor federal no Estado de Pernambuco -, no dia 4 de dezembro de 1945, que o Arquivo Público Estadual (APE) foi criado, mediante o Decreto-Lei 1.265. Isto pretendeu dar um basta à destruição dos documentos do Governo, e abrir um espaço para todos os indivíduos que desejassem consultá-los. O acervo vem crescendo desde sua criação, com conteúdo diversificado, que mostra a história de várias formas, por jornais, manuscritos, fotos, livros e outros. Destaque para os documentos manuscritos do período colonial (séc. XVI a XIX), e mais de 12 mil títulos de jornais e obras raras dos séculos XVI a XX.
4 - Praça Dezessete
Fica entre as ruas do Imperador, São José e a margem do Rio Capibaribe, Recife, num local antes denominado Pátio do Colégio, porque era vizinho ao Colégio dos Jesuítas. Depois da expulsão dos holandeses, o governo da Capitania instalou-se ali e o local passou a ser chamado de Pátio do Palácio. Foi denominada, também, Praça Pedro II e, finalmente, passou a Praça Dezessete, numa referência ao movimento republicano de 1817. Em 1846, foi instalada na praça uma fonte de mármore, com estátua de índia representando a nação brasileira, fabricada em Gênova, Itália. Estão registrados nessa praça: o feito de Santos Dumont, inventor do avião, e a travessia aérea do Atlântico Sul, realizada por aviadores portugueses que chegaram ao Recife a 05/06/1922. Também existe ali uma imagem de Ícaro, figura da mitologioa grega cujo pai (Dédalo) chega à Sicília com asas artificiais, enquanto ele afogou-se no Mar Egeu.
5 - Igreja do Espirito Santo
Na gestão do presidente da província de Pernambuco, José Bento da Cunha e Figueiredo (1852-1856), a Irmandade do Divino Espírito Santo, ciente de que o presidente tinha interesse em restaurar a abandonada igreja do antigo Colégio dos Jesuítas a ele se dirigiu através de ofício para solicitar a entrega daquele templo à Irmandade. O pedido enumerava algumas condições, entre elas restaurar a Igreja com a invocação e título do Divino Espírito Santo. Em 10 de julho de 1855, José Bento despachou o ofício concordando com a solicitação desde que as instalações do segundo andar do Colégio, onde funcionara a cadeia, fossem reformadas para abrigar o Tribunal da Relação. A Irmandade concordou e, em 27 de julho de 1855, o presidente da província ordenou ao presidente da Comissão de Higiene Pública a entrega das chaves da Igreja do antigo Colégio à Irmandade do Divino Espírito Santo. Dessa forma, e realizados os consertos mais urgentes, em 8 de setembro de 1855 “transladou a Irmandade do Divino Espírito Santo da Igreja da Conceição dos Militares para a sua própria, o seu divino padroeiro, em solene procissão, conduzido o S.S. (Santíssimo) sob o palio e exposto no trono do Espírito Santo durante o Te Deum, ao recolher da procissão” (PIO, 1960, p. 33).
6 - Fórum Thomaz de Aquino
Registra a história que o Tribunal de Justiça de Pernambuco passou a existir mediante o alvará de D. João VI, de 6 de fevereiro de 1821. À época, foi denominado Tribunal da Relação de Pernambuco e instalou-se num espaço dentro do antigo Colégio dos Jesuítas do Recife, em 13 de agosto de 1822. A sede do Tribunal foi transferida algumas vezes: do Colégio dos Jesuítas passou para o imóvel do antigo Erário (demolido em 1840), depois para o Palácio do Governo, em 12 de julho de 1838. Voltou para o Colégio dos Jesuítas, funcionou na Cadeia Velha, na rua do Imperador, até a sua extinção em 8 de janeiro de 1892, data em que fora criado o Superior Tribunal de Justiça. A partir de então, funcionou num prédio que ficava entre o atual Arquivo Público e a Secretaria da Fazenda até ocupar o imponente Palácio da Justiça, localizado na esquina da Rua do Imperador Pedro II, com frente para o jardim da Praça da República.
FONTES CONSULTADAS: VAINSENCHER, Semira Adler. Arquivo Público Estadual de Pernambuco. REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO, Recife, 1º semestre, 1946. ILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: [s. n.], 2002. 266 p. MENEZES, José Luiz Mota; REINAUX, Marcílio. Palácio da Justiça. 2. ed. rev. e ampl.Recife: Gráfica e Editora Liceu, 1997.

Um Caminhar pela História do Recife - Parte 02

Bairros de Santo Antônio e São José
Antes da Invasão holandesa, à capitania de Pernambuco, a Ilha de Antônio Vaz era pouco ocupada, ali havia apenas o convento Franciscano no norte da Ilha, e uns poucos moradores. Diante da invasão, em 1630, o convento foi ocupado, passando a ser chamado de Forte Ernesto. Em 1630, quando se iniciou o domínio holandês, Diederick van Waerdenburch, o comandante das forças holandesas de terra, ordenou a construção de um forte na ponta sul da Ilha de Antônio Vaz, conhecido até os dias de hoje como Forte das Cinco Pontas. Quando Maurício de Nassau (Johan Maurits van Nassau-Siegen, 1604-1679) chegou ao Recife, em 1637, tratou de reforçar o sistema de defesa da ilha bem como de encomendar o plano urbanístico da Mauritzstadt (Cidade Maurícia), de autoria de Pieter Post. A Ilha de Antonio Vaz e a Cidade Maurícia constituiriam a área de expansão da cidade do Recife. A Cidade Maurícia (a oeste) e a Cidade do Recife (a leste) foram ligadas por uma ponte, construída em 1642, hoje chamada de Ponte Maurício de Nassau. Outras obras foram planejadas e executadas na Ilha de Antonio Vaz durante o período nassoviano, como a drenagem dos terrenos, canais, diques, palácios (Friburgo e Boa Vista), jardins (botânico e zoológico), museu natural, observatório astronômico, organização de serviços públicos como o de bombeiros e de coleta de lixo. Nos séculos subsequentes à ocupação holandesa o bairro prosseguiu seu desenvolvimento urbano, tendo se tornado a parte mais importante da cidade fora o porto. Nele desenvolveram-se todas as atividades citadinas de que são exemplos alguns edificios notáveis, como o Palácio do Governo, o Teatro de Santa Isabel, o Palácio da Justiça, o Mercado de São José, a Casa de Detenção e vários outros edifícios da administração pública estadual, federal e municipal. Na ilha de Antonio Vaz também há grande quantidade de edificios privados, como sedes de bancos e casas comerciais. Grande parte de seu patrimônio arquitetônico está nas igrejas, como a Concatedral de São Pedro dos Clérigos, a Capela Dourada e o Convento Franciscano, Basílica de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares. Urbanisticamente o bairro preservou alguns pátios (pátio de São Pedro, pátio do Terço, pátio do Livramento) e a orientação predominante norte-sul de suas principais vias. No século XX o bairro passou por diversas modificações urbanas modernizadoras que descaracterizaram seu aspecto original. Foram abertas, entre os anos de 1940 e 1970, as Avenidas Guararapes, Dantas Barreto e Nossa Senhora do Carmo, a descaracterização espacial da Praça do Diário (onde está instalado o Diario de Pernambuco), a construção da Avenida Sul e do Viaduto das Cinco Pontas. Essas intervenções urbanas transformaram radicalmente o caráter residencial do bairro. Hoje a população residente está estabelecida majoritariamente no bairro do Coque.
* Como se caracteriza em uma região com inúmeras edificações importantes para a Cidade do Recife vamos subdividi-la em várias partes para poder contar de uma forma coerente e segura para a compreensão de todos a nossa história.
1ª parte composta pela: Praça da República e suas principais Edificações, e o Quarteirão Franciscano:
1- Praça da República
Encontra-se no extremo norte do bairro, na Ilha de Antônio Vaz, sendo margeada noroeste, norte e nordeste pelo ponto de junção dos rios Capibaribe e Beberibe. A Praça já teve várias denominações. O conde Maurício de Nassau construiu ali o Palácio de Friburgo, ou Palácio das Torres. Com sua destruição, no século XVIII, o local passou a ser denominado como Campo do Palácio Velho. Depois, quando a tesouraria da Capitania de Pernambuco ali se instala, onde antes era o Palácio das Torres, passou a ser chamado de Campo do Erário. Durante a Revolução de 1817, passou a ser denominado de Campo da Honra. Foi ali, sob esta denominação, que foram executados: Antônio Henrique Rabelo; padre Antônio Pereira de Albuquerque; Amaro Coutinho; Domingos Teotônio Jorge; José de Barros Lima (o Leão Coroado); José Peregrino Xavier de Carvalho; e o Vigário Tenório. Com a construção do Palácio do Governo, mudou a denominação para Largo do Palácio. Esta denominação mudou, com a visita de Dom Pedro II, para Campo das Princesas e finalmente, com a Proclamação da República, tomou a atual denominação de Praça da República. Nessa Praça estão localizadas várias edificações históricas como: O Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo Estadual; O Teatro de Santa Isabel; O Palácio da Justiça; O Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco; dentre outros. Existem ali também belas estátuas de Deusas que simbolizam as guardiãs do lugar. São elas: Ceres, a Deusa da fertilidade; Diana, Deusa da Caça; Flora, Deusa das Flores; Juno, rainha dos deuses do Olimpo, protetora das mulheres e o casamento; Minerva, Deusa das artes e Ciências; Níobe, Vesta e Têmis, que são consideradas as Deusas da justiça. Também se encontra um centenário baobá que dizem que foi fonte de inspiração a Antoine de Saint-Exupéry, ao escrever O pequeno príncipe.
2 - Palácios Campo das Princesas
O Palácio do Campo das Princesas é a sede administrativa do estado de Pernambuco. Idealizado desde 1786 pelo governador José César de Meneses, foi construído em meados do século XIX, quando, em 1841, o então governador Francisco do Rego Barros, futuro Conde da Boa Vista, mandou o engenheiro Firmino Herculano de Morais Âncora construir o Palácio Provincial que a República transformaria em Palácio do Estado. Em 1859 sofreu uma reforma para hospedar o imperador Dom Pedro II, a imperatriz Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias e suas filhas, ocasião em que recebeu o nome de Campo das Princesas, inicialmente dado ao jardim onde as princesas brincavam, depois estendendo-se a denominação ao Palácio. No ano de em 1920, o prédio foi amplamente reformado, ocasião em que se construiu mais um pavimento, a fim de abranger todo o corpo do edifício, dando-lhe mais amplitude. Tais obras foram concluídas somente em 1922, durante o governo interino de Severino Pinheiro, devido à morte do governador José Rufino Bezerra Cavalcanti. Entre 1926 e 1930, no governo de Estácio Coimbra o palácio foi remodelado, decorado e mobiliado. No ano de 1967, o palácio chegou a servir de sede para o governo da República, na época do presidente Arthur da Costa e Silva e do governador Nilo de Sousa Coelho. Destaque para o estilo neoclássico, para o prédio com 3 pavimentos e para o interior com cadeiras, sofás e poltronas à Luís XVI.
3 – Teatros Santa Isabel
A ideia de construir um teatro público no Recife foi do então presidente da província de Pernambuco, Francisco do Rego Barros, barão, visconde e depois conde da Boa Vista. Em 30 de abril de 1839, ele assinou a Lei número 74, autorizando a construção de um teatro público para a cidade. A província não dispunha, na época, de profissionais qualificados, como engenheiros e arquitetos, nem sequer pedreiros ou carpinteiros especializados. Os poucos engenheiros que existiam tinham formação militar e para viabilizar o seu projeto de governo, Rego Barros promoveu a vinda de inúmeros profissionais europeus, engenheiros, matemáticos, técnicos e operários, entre eles, Louis Léger Vauthier, o engenheiro responsável pela execução do projeto do novo teatro, que chegou ao Recife, em setembro de 1840. O primeiro projeto elaborado por Vauthier, cujo orçamento era de 400 contos, foi rejeitado devido ao seu alto custo. O projeto definitivo, estimado em 240 contos, foi aprovado em fevereiro de 1841, sendo as obras iniciadas no mês de abril. O local escolhido foi o então chamado Campo do Erário, onde só havia areia. Atualmente é a Praça da República. Durante todo o período de construção era chamado de Teatro de Pernambuco. Só pouco antes da sua inauguração, em 18 de maio de 1850 o seu nome foi mudado para Teatro de Santa Isabel, em homenagem à Princesa Isabel, filha do Imperador Pedro II. A sugestão para a homenagem partiu do então governador da Província de Pernambuco, Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês do Paraná. A peça apresentada no dia da inauguração foi O Pajem de Aljubarrota, do escritor português Mendes Leal. O Teatro de Santa Isabel era a grande casa de espetáculos da cidade, lugar de divertimento, convivência social e também de exercício da cidadania. Segundo Joaquim Nabuco, foi no Santa Isabel que se ganhou a causa da abolição da escravatura no Brasil, referindo-se a seus discursos e eventos lá realizados. Em 1859, o teatro recebeu seu mais ilustre convidado, o Imperador Pedro II, que, visitando as províncias do Norte, passou seu aniversário no Recife e foi ali homenageado com um espetáculo de gala. No dia 19 de setembro de 1869, o teatro foi quase que totalmente destruído por um incêndio, que deixou de pé apenas as paredes laterais, o alpendre e o pórtico, sendo construído, em madeira, como uma substituição temporária, no Campo das Princesas, o Pavilhão Santa Isabel. A orientação vinha de Louis Léger Vauthier, que, mesmo estando em Paris, teve as suas recomendações respeitadas pelo engenheiro José Tibúrcio Pereira de Magalhães, responsável pelas obras de reconstrução do teatro. O Santa Isabel foi reinaugurado no dia 16 de dezembro de 1876. Houve algumas obras de restauração nos anos de 1970 e 1977 e entre 1983 e 1985 inúmeros benefícios foram realizados no Teatro. Em 2000 foi iniciada outra reforma que exigiu intervenções para assegurar a preservação do prédio, retomar algumas feições originais, dar mais segurança aos seus frequentadores e mais espaços e recursos para a realização dos espetáculos. Dessa última reforma, a Fundação Joaquim Nabuco participou através do trabalho de técnicos do seu Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte - Laborarte. Um exemplo de arquitetura neoclássica predominante no século XIX brasileiro.
4 – Liceus de Artes e Ofícios
O Liceu teve assentada a primeira pedra em 23 de abril de 1871 e foi inaugurado em 1880, como sede da Escola de Ofícios mantida pela Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, que ministrava aos interessados aulas de desenho, arquitetura, aritmética e primeiras letras. Extinto em 1950, desde 1970 seu acervo e o prédio, localizado na Praça da República, estão sob a guarda da Universidade Católica de Pernambuco, quando foi reativado oferecendo cursos técnicos em administração e contabilidade. O início do convênio com a Secretaria de Educação foi por volta dos anos 80, passando a funcionar como uma escola filantrópica, mantida pela Unicap, instituição ligada à Companhia de Jesus. A Unicap através de convênio firmado com a Secretaria de Educação de Pernambuco passa a receber os professores da rede.
5 – Palácios da Justiça
Sua pedra fundamental foi lançada em 2 de julho de 1924, pelo governador do Estado e juiz federal Sérgio Loreto, dentro das comemorações do primeiro centenário da Confederação do Equador. O projeto para a construção, em estilo eclético, aprovado em 1924 pelo engenheiro-chefe das Obras Complementares do Porto, é do arquiteto italiano, formado pela Escola de Belas Artes de Paris, Giácomo Palumbo (1891-1966), com a colaboração de Evaristo de Sá. Foi o quarto projeto apresentado. O primeiro, no ano de 1917, do arquiteto Heitor Mello, professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. O segundo, de Giácomo Palumbo, em estilo Luiz XVI, em dimensões menores que o projeto aprovado; e o terceiro, do arquiteto e pintor Henrique Moser. A sua construção levou cerca de seis anos para ser concluída (foi inaugurado em 7 de setembro de 1930, no governo de Estácio Coimbra) e teve momentos de paralisação: em 29 de dezembro de 1926, com obras reiniciadas em 7 de março de 1928. Inclusive, quando do reinício dos trabalhos o projeto fora reelaborado pelo próprio arquiteto Palumbo, a pedido da Diretoria de Obras Públicas que assumira os trabalhos. Entretanto, no governo de Carlos de Lima Cavalcanti o Palácio foi totalmente concluído onde houve a aquisição do mobiliário e o acabamento final nos ambientes do edifício. Na fachada, em frente à cúpula, encontram-se dois grupos de esculturas alegóricas a justiça e à lei, intitulados “A Justiça e a Família” e “A Justiça e o Homem”, do artista pernambucano Bibiano Silva. São também de sua autoria os bustos dos juristas pernambucanos Francisco de Paula Batista e Gervásio Pires, localizados na Sala dos Passos Perdidos. Da sua inauguração até os nossos dias, o interior do Palácio, no que se refere aos ambientes e seus usos, sofreu muitas modificações. O local onde foi erguido pertenceu antes ao Palácio de Friburgo, que servia como palácio de despachos do Conde Maurício de Nassau, conhecido também como Palácio das Torres que em 1770 foi demolido e construído o Erário Régio este também demolido em 1840.
6 – Quarteirão Franciscano
São edificações religiosas católicas pertencentes à Ordem Franciscana. Do complexo de edifícios, além do Convento e da Igreja, fazem parte a Capela Dourada e o Museu Franciscano de Arte Sacra.
* Convento de Santo Antônio
É uma das construções mais antigas ainda existentes na cidade do Recife. Sua origem remonta a 28 de outubro de 1606, data em que os frades resolveram erguer um convento na Ilha dos Navios para atender à população próxima ao porto. A ilha mais tarde veio a receber o nome de Ilha de Antônio Vaz, e desenvolveu-se no atual bairro de Santo Antônio. O terreno de 56 braças para a construção foi doado por um senhor de engenho chamado Marcos André, e em 1613 já se registra como terminado um oratório com hospital anexo, dedicados ao Padroeiro do Recife. Durante o período da dominação holandesa o edifício foi transformado em fortaleza, sendo acrescidos de muralhas, baluartes e demais apetrechos militares, recebendo o nome de Forte Ernestus. Depois, durante algum tempo foi votado à Igreja Anglicana, para atendimento dos oficiais da Companhia das Índias Ocidentais. Com a retirada dos holandeses o local passou novamente à propriedade dos Franciscanos, sendo restaurado e aumentado de uma enfermaria. Além de sua importância histórica o convento possui grande interesse artístico, apresentando inúmeras obras de arte, mobiliário esculpido em jacarandá e objetos sacros diversos. Destacam-se os painéis de azulejos da portaria e sobretudo do claustro. Perfazem painéis de grandes dimensões com cenas variadas, ilustrando episódios bíblicos como o Dilúvio, a morte de Adão, o sacrifício de Isaac, a expulsão do Éden e outras mais. Também existe uma rara série de azulejos, cujo conjunto inclui material originário de Delft e crê-se que seja remanescente do antigo Forte Ernestus e do Palácio de Friburgo, erguido por Maurício de Nassau a pouca distância dali, com cerca de 900 peças instaladas como friso no exterior da sacada do piso superior do claustro, cada uma com uma figura individualizada, datando de entre 1630 e 1650. Na capela do convento também existe azulejaria digna de nota, ilustrativa do Rosário de Nossa Senhora, e um púlpito obra de Francisco Manuel Béranger, do início do século XIX, além de mobiliário de bela feição.
* Igreja de Santo Antônio
A presente Igreja de Santo Antônio é a sucessora do primitivo oratório erguido junto com o convento no século XVII. No início século XVIII o oratório foi substituído por uma igreja maior, novamente remodelada entre 1753 e 1770, o que lhe emprestou o seu atual estilo rococó. A fachada se eleva sobre uma portada de pedra com cinco grandes arcos redondos, continuando acima apenas sobre os três centrais, com janelões emoldurados em pedra esculpida com ornamentos e volutas, encimadas por óculos redondos, dos quais o central é maior. A cornija de separação do nível superior tem um arco no centro e decai em suave curva até as extremidades, onde se encontra com contrafortes em volutas que sobem dos arcos extremos do térreo. O frontão que coroa o conjunto tem elegante desenho com grandes volutas floreadas, o brasão da Ordem ao centro e um cruz de arremate, além de pináculos em forma de labareda na base. Recuado em relação ao corpo da igreja está o campanário, à esquerda, com um coruchéu em bulbos octogonais superpostos revestido de azulejos. O interior, de nave única, preserva uma série de painéis de azulejos representando cenas da vida de Santo Antônio ao longo das paredes laterais e junto ao piso, e mostra algumas tribunas, um púlpito à direita e um teto em abóbada de berço (com pinturas de Sebastião Canuto da Silva Tavares) de onde pendem grandes candelabros. Bancadas e um corredor central conduzem até o fundo da igreja, cuja parede é completamente recoberta de talha rococó de refinado desenho. Nesta parede duas capelas secundárias se apegam ao arco do cruzeiro, dedicadas à Virgem Maria e São Francisco, respectivamente à esquerda e à direita, ladeando a capela-mor, em um nicho recuado. Seu retábulo ostenta um grande crucifixo rodeado de resplendor, tendo aos lados dois pares de colunas de capitel coríntio e fuste salomônico em uma e canelado em outra, além de estatuária menor, e um grande frontão ricamente lavrado. Acima, o teto da capela-mor é também em abóbada de berço revestida de azulejaria policroma em motivos florais. Anexa à igreja está a Capela Dourada, separada da nave por um grande arco gradeado, à esquerda. Na sacristia se guarda grande quantidade de objetos preciosos de culto e outras obras de arte, como mobiliário setecentista com ornamentação de prata, obra do mestre entalhador José Gomes de Figueiredo, além de lavatórios e pinturas a óleo. Atrás da sacristia existe um pequeno cemitério, onde se eleva um cruzeiro de pedra instalado em 1840. No século XIX, a Igreja de Santo Antônio abrigou o "cemitério dos infamantes" ou "da vergonha", onde eram sepultados indigentes, escravos e mártires de revoluções, como os da Revolução Pernambucana, de 1817.
* Capela Dourada
A construção da capela foi fruto de uma iniciativa dos Irmãos da Venerável Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, criada em Recife no século XVI. Sendo abastados muitos de seus membros, decidiram erguer uma capela para os noviços da Ordem. A pedra fundamental foi lançada em 13 de maio de 1696 pelo Capitão General Caetano de Melo Castro, sendo mestre-construtor o Capitão Antônio Fernandes de Matos. A capela foi aberta ao público em 15 de setembro de 1697, com missa presidida pelo Comissário Visitador Frei Jerônimo da Ressurreição, embora ainda não estivesse inteiramente terminada, permanecendo em obras até 1724. Nascendo em uma época de grande prosperidade na região, ao longo do tempo a capela recebeu melhorias e rica decoração barroca, e sua condição atual data basicamente dos séculos XVII e XVIII. Seu nome deriva da grande quantidade de ouro empregada na cobertura da exuberante talha de madeira que forra praticamente todo os espaços das paredes, altares e teto. A sua construção e decoração contou com a participação de diversos artistas de importância na região. O teto com os arcos externo, do cruzeiro e da capela-mor, bem como mobiliário auxiliar, são obra de Luís Machado, do século XVII. O teto é dividido em caixotões para painéis pintados a óleo, com cenas diversas. A capela-mor, com um nicho central para um grande crucifixo e nichos laterais para São Cosme e São Damião, foi entalhada por Antônio Martins Santiago em 1698, e foi dourada por Manuel de Jesus Pinto em 1799. Ao longo das paredes laterais existe uma série de painéis de azulejos, altares menores com importante estatuária, dos quais se destacam o de Santa Isabel, o do Cristo atado à coluna, e o do Senhor dos Passos (com uma imagem de roca em tamanho natural com incrustações de rubis), e dezenas de painéis pintados representando santos e personificações das virtudes da Fé, Esperança, Caridade e Constância. As pinturas foram executadas entre os séculos XVIII e XIX pelos mestres José Ribeiro de Vasconcelos (entre 1759 e 1761), José Pinhão de Matos e João Vital Correia (em 1864), sendo dignas de maior atenção duas, de grandes dimensões, junto às bancadas, representando a prisão e morte de mártires franciscanos, cujos algozes, curiosamente, tiveram suas faces apagadas e riscadas, em data desconhecida, pela indignação de algum devoto. Na sacristia existe ainda mobiliário esculpido em jacarandá, datando de 1762, além de uma mesa de mármore e de um lavabo importados de Estremoz.
* Museu Franciscano de Arte Sacra
O museu foi fundado em 28 de setembro de 1974 pelo irmão Fernando Pio dos Santos, e está instalado nas dependências da Ordem Terceira de São Francisco do Recife, das quais também faz parte a famosa Capela Dourada. O museu possui um acervo variado que inclui paramentos litúrgicos, mobiliário entalhado, peças de culto em metais preciosos como ostensórios, turíbulos, tocheiros e candelabros, estatuária barroca e outros objetos. Dentre suas peças mais importantes estão a primeira imagem do Sagrado Coração de Jesus de Pernambuco, trazida pelo padre Gabriel Malagrida; uma imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho que estava no oratório da Faculdade de Direito do Recife; uma de Nossa Senhora da Conceição de autoria de João Pereira, que foi muito venerada enquanto esteve na desaparecida igreja da Madre de Deus; uma série de imagens da Procissão das Cinzas, vindas de Lisboa em 1709; um altar entalhado e dourado de 1804, com imagens de São Francisco das Chagas recebendo os estigmas de Jesus Cristo; uma Nossa Senhora das Mercês, um Crucifixo de 1751, e um Cristo glorioso.
FONTES CONSULTADAS: MENEZES, José Luiz Mota; REINAUX, Marcílio. Palácio da Justiça. 2. ed. rev. e ampl.Recife: Gráfica e Editora Liceu, 1997. BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983 . FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: [s. n.], 2002.